Por uma Igreja sinodal: comunhão – participação – missão
Temos de recordar que a palavra sínodo é muito conhecida na Tradição da Igreja. Indica o caminho que os membros do Povo de Deus percorrem juntos. Isto remete, portanto, para Nosso Senhor Jesus Cristo, que Se apresenta como «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6) e também lembra que os cristãos, nos primórdios, foram chamados «os discípulos do caminho» (At 9, 2; 19, 9.23; 22, 4; 24, 14.22). Para a Igreja, esta palavra (sínodo) indica os discípulos de Jesus reunidos em assembleia «para dar graças e louvores a Deus como um coro, uma realidade harmónica, onde tudo se mantém unido, uma vez que aqueles que a compõem, através das relações recíprocas e ordenadas entre si, se encontram no amor e no mesmo sentir.» (São João Crisóstomo). Ainda que com um significado específico, desde os primeiros séculos que se designam com o termo ‘sínodo’ as assembleias eclesiásticas convocadas a diversos níveis (diocesano, provincial ou regional, patriarcal, universal), para discernir, à luz da Palavra de Deus e escutando o Espírito Santo, as questões doutrinais, litúrgicas, canónicas e pastorais, que se vão apresentando periodicamente.
Com base no que foi exposto, o Sínodo é, então, o caminho de reflexão, oração, encontro, escuta e discernimento, com a orientação do Espírito Santo, para continuar a ter consciência de que somos uma Igreja peregrina, na qual caminhamos juntos. E, neste caminhar, a nossa mentalidade tem de ser a da sinodalidade, necessária para percorrer o caminho. Viver a sinodalidade é a forma de ir caminhando com outros na amizade, na escuta, na participação, na comunhão e na missão.
A sinodalidade acontece na Igreja porque é o estilo de ser e de fazer da Igreja de Cristo edificada nos apóstolos (Ef 2, 20; Mt 16, 18). É oportuno lembrar a Igreja reunida em Jerusalém para tratar dos temas que impediam que as primeiras comunidades caminhassem juntas (At 15, 1-35). Neste primeiro Sínodo (assembleia) vê-se a ação do Espírito Santo, que ajuda a comunidade a discernir para onde deve ir (At 15, 28). Tal como relatado no livro dos Atos dos Apóstolos, todos podemos participar, todas as vocações, carismas e, como proferiu o Papa Francisco, também é necessária a participação e a escuta de pessoas de outras confissões cristãs e religiosas, ou seja, todas as pessoas de boa vontade, com a finalidade de buscar sempre a renovação da Igreja, para alcançar a atualização desejada pelo Papa João XXIII.
Os frutos que se esperam deste Sínodo são a comunhão e a missão entre todos os batizados. O Concílio Vaticano II determinou que a comunhão expressa a própria natureza da Igreja e, ao mesmo tempo, afirmou que a Igreja recebe «a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra.» (Lumen Gentium, 5). A Igreja, através destas duas expressões (comunhão e missão), contempla e imita a vida da Santíssima Trindade, mistério de comunhão ad intra (dentro da própria Igreja) e fonte de missão ad extra (fora da Igreja).
A par da comunhão e da missão encontra-se o fruto da participação, que se manifesta pelo sacerdócio comum de todos os fiéis, porque a participação é uma exigência do próprio Batismo para formar um só corpo (1 Cor 12, 13). Por isso, o Papa Francisco diz: «Todos somos chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão. Se falta uma participação real de todo o Povo de Deus, os discursos sobre a comunhão arriscam-se a não passar de pias intenções» (Discurso, 9 de outubro de 2021). Por conseguinte, a participação tem de ser entendida como um compromisso de todos os que compõem a Igreja.
Deixemos que neste Sínodo o Espírito Santo atue, reanimando o que está morto e quebrando as cadeias que impedem a Alegria do Evangelho. Para que todos juntos construamos uma Igreja diferente. «Por uma «Igreja diferente», aberta à novidade que Deus lhe quer sugerir, invoquemos com mais força e frequência o Espírito e coloquemo-nos humildemente à sua escuta, caminhando em conjunto, como Ele, criador da comunhão e da missão, deseja, isto é, com docilidade e coragem» (Papa Francisco, Discurso, 9 de outubro de 2021).
Escrito por Eric Hernandéz Cortina, fmap