O Natal do Senhor
O Natal é a grande festa de toda a humanidade, em que ninguém se deve sentir à margem ou indiferente, como no-lo recordam os sermões natalícios da S. Leão Magno:
«Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens de boa vontade’. Porque veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?».
«Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça» (S. Agostinho).
Cristo nasceu homem para restituir à humanidade e a toda a criação a sua beleza e dignidade. Deus e humanidade se abraçaram para sempre. A partir de agora, anjos e homens podem cantar juntamente a beleza do cosmo que se exprime num único hino de louvor: glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. A alegria foi, segundo S. Efrém, muito maior no nascimento do que na conceção, pois «só um anjo anunciou a sua conceção.
Hoje o coro os coros dos anjos unem-se a todas as nações para celebrar a virgem imaculada que neste dia deu à luz o Salvador. Hoje toda a humanidade, desde Adão, dança. Bendito seja Deus, recém-nascido».
(Fr. Isidro Lamelas, OFM)