O meu itinerário para Deus
A Quaresma inicia com as palavras “arrependei-vos e acreditai no Evangelho ” ou ainda “ tu és pó e ao pó voltarás”. Ambas têm como objetivo pôr o homem diante de Deus na sua realidade de pecador, convidando-o a dar abertura em seu coração à ternura de Deus e iniciar um regresso gradual ao seu regaço misericordioso.
No mesmo dia em que se recorda ao homem a sua situação, é-lhe proposto no evangelho de S. Mateus (6, 1-8.16-18) um itinerário que o ajuda a caminhar para Deus.
ORAÇÃO
Normalmente, na oração pedem-se coisas que se relacionam com este mundo, sobretudo no bem-estar. Mas pouco se pede em relação com o que é espiritual: ser bom filho de Deus e um autêntico discípulo de Cristo, procurando viver atempadamente o que se vive no céu, uma vida mais plena no espírito.
No diálogo com Deus importa buscar, em primeiro lugar:
A glória de Deus
Louvar, bendizer e reverenciar a Deus, pois esse é o fim pelo qual fomos criados. Viver pedindo a Deus para que no nosso viver quotidiano não passe em segundo plano a nobre finalidade que nos foi concedida nesta vida tão bela.
Nosso autêntico bem
Sem esquecer que há um só corpo e uma só alma que Deus remiu, pedir o alimento material e espiritual, o perdão de nossos pecados e a salvação definitiva, que é a meta suprema de todos os cristãos.
Perdoar aos que nos ofendem
Perdoar setenta vezes sete, é dizer sempre. Quantas vezes se me peça perdão, assim tantas vezes devo estar disposto a perdoar. Não há limite. Trata-se de algo que só Deus pode conceder, por isso temos que orar pedindo sempre a Deus esta graça.
JEJUM – CONVERSÃO
Ser discípulo de Cristo e viver como Ele viveu de modo real, é bem difícil. Ser cristão de nome é o mais simples, ser um cristão que procura seguir as pegadas do seu mestre, que se esforça por viver fazendo o bem, há poucos. Onde estás tu?
Há quatro níveis de aproximação a Deus que podem ajudar-te a sintonizar com a situação em que te encontras e para dares mais um passo.
Religiosidade popular
Uma fé não iluminada, como a fé do carvoeiro; algo que fica só na superfície. Uma mistura entre crenças e práticas herdadas, sem discernimento algum; uma fé de tradição e não de convicção. Neste tipo de religiosidade popular predominam os costumes e não o Evangelho.
Fé em Cristo
Temos que diferenciar entre “boa-fé” e uma “fé boa”. A primeira expressão, “boa-fé”, refere-se a uma fé num Cristo distorcido que nada tem a ver com a Palavra de Deus, onde a essência e exigências cristãs brilham por sua ausência. Na segunda, “fé boa”, surge a luz pela Palavra de Deus, tendo a Cristo como único Senhor e salvador, e único juiz da própria vida.
Discípulos de Cristo
Mais ainda, teoria e prática. Uma fé mais consciente e não só um simples “crente”. São aceites e vivem-se as exigências que implicam a vida cristã: humildade, pobreza, perdão, sofrimento, etc.. Aliás, vive-se uma fé mais em comunidade, no seio dum grupo ou em família. Em atitude de dar e receber.
Missionários
Consiste em ver para além do grupo restrito dos discípulos de Cristo, preocupando-se pelos afastados ou dos que se encontram à margem da fé cristã. Ser sensível perante as necessidades espirituais dos irmãos e a capacidade de ajudá-los para sua plena realização em Cristo e na sua Igreja.
BOAS AÇÕES
Diálogo
Exercício indispensável para evitar maus entendidos e pré-juízos. Também ajuda a tomar consciência das falhas, próprias e alheias.
Perdão
Caminhantes peregrinos para o céu, o céu entendido como a plenitude do homem. Avançamos com os olhos fixos na plenitude, como seres inacabados que só encontrarão a sua perfeição no céu. À medida que caminharmos, precisaremos de perdão pelos erros diários da vida. Então, perdoa, pois queremos que o próprio Deus nos perdoe (Mt 6, 14-15). Ninguém peca por causa do mal, mas por causa do impedimento em perdoar.
Solidariedade
Sentir os problemas e as esperanças dos outros como se fossem seus. Estamos todos no mesmo barco da vida. Tente resolver os problemas juntos. O espírito egoísta (egoísmo) isola. A solidariedade cresce na medida em que sai de si mesmo no encontro com o outro.
Que Deus, com a sua força, ajude cada um a dar passos no crescimento da fé, uma fé madura que ilumina e dá sabor a uma sociedade que procura a sua emancipação. O bom gosto dos santos de Deus.
P. Noé Guerrero Hernández (FMAP)