O ENSINAMENTO DE JESUS
Não se pode confundir a Missão com o turismo (cf. Lc 9, 57), a atividade assistencial ou a promoção humana (cf. Lc 9, 60-61).
A bem dizer, a missão tem que ver com Jesus e seus ensinamentos. Pois bem, o que nos diz o Evangelho em relação à Missão? Vejamos como Jesus foi preparando e treinando os 12 Apóstolos e os 72 discípulos (cf. Mt 10, 1-42; Lc 10 1, 12.16-24).
1.- Escolhidos (cf. Mt 10, 1-5; Lc 10, 1)
Nem todos são aptos para a missão. Trata-se de um carisma especial, que se torna um serviço específico dentro da Igreja. Os pastores da Igreja têm que estar na linha da frente. Não se devem valer da praxis atual de descarregar exclusivamente sobre os leigos uma responsabilidade que é de tal importância.
2.- Enviados (cf. Mt 10, 5; Lc 10, 1)
Não basta a teoria. É necessária a prática, começando pelo mais fácil (cf. Mt 10, 6: ovelhas dispersadas) para estar prontos quando forem enviados a pregar o Evangelho por todo o mundo (cf. Mt 28, 19; Mc 16, 15). É ali onde se medem as forças e se esclarecem as intenções. O soldado conhece-se no campo de batalha, não no quartel ou no desfile.
3.- Instruções específicas (cf. Mt 10, 5ss; Lc 10, 2ss)
Ser missionário não é o mesmo que ser cantor do coro, catequista ou encarregado de distribuir a comunhão aos enfermos. É algo especial e, portanto, precisa de uma mística e dum treino especial.
4.- Cordeiros entre lobos (cf. Mt 10, 16; Lc 10, 3)
Trata-se de uma tarefa difícil cujo desempenho pode encontrar todo tipo de reações, com humilhações, rejeições e até verdadeiras perseguições (cf. Mt 10, 14. 17ss; Lc 10, 10ss). Não se trata de um passeio ou de uma festa.
Hoje em dia, pensemos na presença dos grupos proselitistas e do espírito mundano, que está permeando todos os ambientes, até muitos ambientes eclesiais. Pois bem, o missionário tem que estar preparado, em todos os aspectos, para enfrentar esta realidade, sendo “simples como as pombas e prudente como as serpentes” (cf. Mt 10, 16), ou seja, transparente em suas intenções e perspicaz para descobrir as armadilhas, entraves e artimanhas dos inimigos da nossa fé, e para não se deixar envolver em suas redes.
Neste sentido, tem de se evitar a superficialidade, o falso irenismo ou engano, apresentando a missão como algo fácil e aberto a todos. Ouve-se dizer:
– Para que aquecer tanto a cabeça? É suficiente falar do amor de Deus, fazer a sondagem e convidar as pessoas a ir à missa.
-E se forem questionados com o tema das imagens, do batismo das crianças, da Santíssima Trindade e de tantas outras questões em relação a nossa fé, o que fazemos?
– Não liguem a isso.
É fácil dizer: “não liguem a isso”. A experiência ensina que o missionário improvisado, sem uma ideia clara sobre o que implica o seu papel e sem uma preparação específica ao respeito, perante esta realidade, deixa-se confundir e acaba por se retirar amargurado. E a missão naufraga.
Por quê, então, não se esforça por fazer bem as coisas, à luz da Palavra de Deus e do exemplo dos primeiros missionários?
5.- Confiança em Deus
Não no dinheiro (cf. Mt 10, 9-10; Lc 10, 4), no próprio prestigio ou nas amizades. Quando o interesse é chamar a atenção das pessoas e ser escutado, e o missionário sente a necessidade de repartir roupa ou alimento, então as coisas começam a ficar mal, pondo em risco o êxito da mesma missão, ao não levar em conta as precisas instruções do Mestre, como já foi referido.
6.- Sinceridade e entrega
O missionário vai ao que vai, evitando qualquer tipo de distração. Neste sentido, tem que ser vista a recomendação de Jesus para não se deter pelo caminho para cumprimentar ou visitar gente conhecida (cf. Lc 10, 4) ou a não buscar comodidades (cf. Mt 10, 11; Lc 10, 7-8).
7.- Poderes especiais
Com a chegada dos seus “enviados”, o mesmo Cristo faz-se presente no meio do povo. Para os que aceitam a mensagem, começa uma nova etapa da sua vida, experimentando uma paz que pode vir somente de Deus (cf. Mt 10, 12; Lc 10, 5-6), e sendo testemunha de um processo de transformação total, que representa o selo inconfundível da intervenção divina (cf. Mt 10, 8; Lc 10, 9).
Pois bem, aqui está o específico (essencial) da nossa missão, como “enviados” da parte de Cristo: provocar uma mudança no indivíduo e na sociedade, sentindo-nos portadores de um poder que vem do alto. É só recordar a experiência das primeiras comunidades cristãs: “Não tenho ouro nem prata; o que tenho te dou: em nome de Jesus, o nazareno, caminha” (Act 3, 7).
O que achas disto? Muito difícil? Neste caso, é melhor não te envolveres neste assunto. Na verdade, não é possível trabalhar nas coisas de Deus, usando critérios e meios puramente humanos, como se se trata-se de um assunto qualquer. Se o missionário trabalha nas coisas de Deus, o seu êxito tem que depender essencialmente da intervenção de Deus em tudo o que fizer.
8.- Ninguém poderá fazer-lhe nenhum mal (cf. Lc 10, 19)
Ser missionário significa dar continuidade à acção de Cristo, que consiste em enfrentar-se directamente com Satanás (cf. Lc 10, 18) para desfazer as suas obras (cf. 1 Jo 3, 8). Se o missionário é consciente disto, nunca hesitará perante a oposição de Satanás, e seus seguidores, com a certeza de que, façam o que fizerem, nunca conseguirão deter ou dar cabo do plano de Deus.
9.- Os seus nomes estarão escritos no céu (cf. Lc 10, 20)
É o máximo que pode desejar um discípulo de Cristo. Com esta confirmação, o que mais precisas para te decidires, hoje mesmo, a tornares-te um missionário?
A PRAXIS DOS PRIMEIROS CRISTÃOS
Enquanto os Evangelhos nos apresentam o ensinamento de Jesus com relação à missão, o livro dos Actos dos Apóstolos apresenta-nos a experiência missionária dos Apóstolos, que deu origem às primeiras comunidades cristãs, cheias de fervor e entusiasmo por Cristo e a sua Igreja. Um tanto paradigmático, para as missões de todos os tempos.
E hoje? Queremos que a missão tenha êxito? Busquemos, então, reavivar as façanhas dos primeiros cristãos, acrescentando mais um capítulo ao livro dos Actos dos Apóstolos.
P. Flaviano Amatulli Valente